Foco primordial no paciente
Nesses tempos onde vivemos a questionar a atuação daqueles não médicos, realizando procedimentos delicados, envolvendo riscos e complicações. Vemo-nos diante de um fato a martirizar ainda mais nossa profissão. Diante dos ocorridos, frente a uma atitude irresponsável e deveras questionável, a medicina é mais uma vez envolvida em polêmica triste.
Durante nossa formação aprendemos que o respeito a ética é uma premissa fundamental para o exercício honesto de nossa profissão. Uma ciência fundamenta em árduos estudos, buscando sempre o melhor para os pacientes. Sem ciência, sem experimentação, sem estudo, sem comprovação, não é possível conduzir qualquer desejo de bem estar para àqueles que nos procuram.
Não deixo de lembrar a fala de um grande professor nos idos de minha formação: “em primeiro lugar o paciente, em segundo lugar o paciente, em terceiro lugar o paciente”. De fato, este tem que ser nosso alvo ao percorrermos os corredores dos hospitais e clínicas onde atendemos. Sem isso em mente, não há razão para darmos continuidade a nossa atuação.
Quando colocamos nossos interesses puramente financeiros em voga, o perigo vem à tona. É obvio, que nosso trabalho pressupõe ganho, porém, este não pode sobrepor o foco no paciente. Fomos levados equivocadamente a crer que medicina é um sacerdócio. Não somos sacerdotes, não somos deuses, tão pouco super-heróis dotados de poderes extra sensoriais. Somos sim humanos, criaturas devedoras como qualquer outra aqui neste planeta. Sujeitas a erros, na maioria das vezes gerados por nossa vaidade e crença de que fomos criados como deuses. Não temos nenhum sinal verdadeiro de divindade.
Ser médico pressupõe estudo e dedicação, noites mal dormidas, muita leitura e provas diárias. Não há como não reconhecer o fato de que vocação é uma premissa fundamental para uma formação de confiança. Sem ela não é possível definir onde começa e termina o “ser médico”.
Quando entrei para a medicina sempre soube das grandes responsabilidades que teria dali em diante. E assim foi durante minha formação. Ser médico para mim sempre esteve em primeiro lugar. Nos altos e baixos, nas idas e vindas, vi-me inclusive como paciente, assumindo o protagonismo do outro lado. Assim, descobri que não podemos ser bons médicos se não formos “pacientes” literalmente. Escolhi por fim a cirurgia vascular por ser uma especialidade com um leque de possibilidades, sobretudo, pela proximidade com os doentes. Aprendi com outro mentor, que colhendo uma boa história e examinando minuciosamente o paciente, noventa por cento do diagnóstico estaria assegurado. E assim foi, assim o é! Não fossem alguns percalços da vida, estaria hoje como preceptor talvez, desejando levar algo a mais, da medicina primordial.
Como médicos temos inúmeras responsabilidades, somos formadores de opinião, devemos buscar incansavelmente o primor. Ao vermos as tragédias médicas e atos não médicos televisionados, vamos entendendo que algo fundamental foi esquecido. O foco perdeu-se e a “valorização” acaba sendo maior do que o tratamento ideal para nossos assistidos.
Longe de querer julgar o que ocorreu diante dessas histórias trágicas, devemos refletir sobre aquilo que estamos fazendo. Não seria hora de indagarmos nossos alunos e residentes, sobre o real motivo que os levaram a estar onde estão? Não seria hora de sairmos dos púlpitos, das redes sociais, fugirmos dos flashes e estarmos mais focados no propósito maior de nossa profissão? O paciente e seu bem estar?
Não podemos ser melhores, não podemos ser bons, se nossa meta não for antes de mais nada, buscar o melhor do melhor para aqueles que confiam em nós!
Jefferson Kleber Forti
Belo Horizonte, 19 de julho de 2018

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